segunda-feira, 7 de novembro de 2011

"Fiquei com vontade de virar parteira"

   A decisão da administradora Mariana Maffeis Feola, 32 anos, de escolher o parto domiciliar para o nascimento da filha Joana além de ter transformado completamente a vida dela, ajudou a dar visibilidade nacional à técnica. Mariana, é filha da apresentadora do programa Mais Você da Rede Globo, Ana Maria Braga, que desde que a neta nasceu o tema é recorrente no programa diário.  
   Em uma pequena entrevista, Mariana conta como foi sua preparação física e psicológica, as surpresas no meio do caminho, fala sobre a descoberta como mãe, e muito mais, confira com exclusividade a íntegra da entrevista.
 Mariana e Joana
Foto: Arquivo pessoal

Como foi a escolha pelo parto domiciliar?
A escolha pelo parto domiciliar foi, segundo palavras do maridão, sem querer-naturalmente! Nossa amiga e doula nos deu aulas de ioga no período gestacional e ela mesma havia ganho sua pequena em um parto domiciliar. Após frequentar um encontro de gestantes sobre o tema, sabíamos o porquê de nossa presença lá: teríamos um parto domiciliar para o nascimento de nossa filha. Aquela era a opção que ia ao encontro de nossos anseios mais íntimos. Por ser a nossa professora instrutora de ioga, havíamos inicialmente pensado que partos domiciliares eram para pessoas como ela apenas, com uma relação com o corpo altamente desenvolvida. No encontro de gestantes percebemos que era uma opção viável para todas as famílias que se propusessem a tal.

E a notícia da opção do casal, qual foi a reação dos familiares e amigos?
Inicialmente todos ficaram surpresos e um pouco preocupados. Ao mesmo tempo, sabiam que era a nossa cara. Como li muito e pesquisei sobre o tema, aos poucos os mais amedrontados foram ficando mais confiantes em nossa escolha. O mais importante é o preparo da própria parturiente. Isso sim é crucial!


Foi tudo como você imaginava?
Após lermos muitos relatos, de partos domiciliares em todo o mundo, meu imaginário estava repleto de imagens que se fundiam em uma só: o bebê nascendo! Parturientes na banheira, olhares introspectivos, êxtases. Diversas posições para o nascimento: deitadas, em pé, de cócoras, de quatro. O que seria que aconteceria com a minha experiência? Talvez tudo? Sim, foi isso. Acredito que no fundo da alma talvez saibamos como seriam os nascimentos dos filhos que de nós saem, e sairão. O trabalho de parto é o momento em que esta conexão se estabelece um rodamoinho sem volta; intenso, denso, solene. A surpresa foi a bebê nascer muito rápido no final. Em apenas três ondas de contração para o período expulsivo, nasce uma bebê, quase escorregada, se rompe o cordão naturalmente, e apenas a amiga e doula realmente estava presente no rápido instante do nascimento de Joana. E eu, estava pronta para a vida!

O que mais te surpreendeu durante todo o processo do trabalho de parto e parto?
Me surpreendi com a gama de sensações, até então novas. Mistura de medo, ansiedade, felicidade, responsabilidade. Diversas nóias iam sendo desmontadas, descontruídas. Outras confianças iam aparecendo. O melhor momento, quando a dilatação chegou ao máximo e toda aquela espera havia passado. O momento era de atividade; uma sensação de grande prazer chegou. Eu sabia enfim que a bebê estava para nascer.


Você se alimentou, caminhou, ficou realmente bem à vontade?
Não quis comer nada durante quase todo o trabalho de parto. Estava com o estômago “esquecido”. Apenas ao final de tudo, quando as energias pareciam se esgotar, meu marido surgiu com a cajuína salvadora. Aquilo foi um néctar para a alma. Aquelas calorias foram direto para onde deveriam, e a força voltou. Experimentei diversas posições: sentada, deitada, de quatro; banheira, chuveiro quente nas costas. Dormi profundamente entre ondas de contração! Mas foi dependurada no cabideiro, posição sugerida pela doula, que a bebê veio ao mundo. Aquela sustentação me ajudou muito nos poucos empurrões finais. Sim, fiquei muito à vontade. Estava em casa!

Sobre seu preparo físico e psicológico, o que você procurou saber e quais eram seus receios?(se puder citar algum exercício físico que praticou e livros que você tenha lido)
Li muito e pratiquei muita ioga. Como a doula havia experimentado ela mesma um parto domiciliar, além de ser minha professora de ioga, conversávamos muito sobre o parto. Também frequentamos vários encontros para gestantes. Nas aulas de ioga, fazíamos visualizações e exercícios para o períneo, conjunto de músculos que exercem um papel fundamental no momento final do parto. Também fiz uso do aparato alemão Epi-no, para assim experimentar a dilatação dos músculos do períneo, que ficou intacto! Procurei não alimentar receios. Em realidade a bebê encontrava-se sentada na trigésima semana gestacional e por isso procurei uma profissional que aplicou sessões de acupuntura para relaxar os músculos do útero. Foi na segunda sessão que Joana deu sua cambalhota e meu receio definitivo se diluiu. Gostei muito do livro da parteira americana Ina May Gaskin, Guide do natural Childbirth, que contêm muitos relatos de partos naturais. Quando corpo consente, lindo livro. Parto Ativo, ótimo. Livros do obstetra francês Michel Odent, inspiradores, além dos clássicos do Leboyer, recomendáveis! Gosto de ler, e o tema me motivou muito! Fiquei com vontades de virar parteira!

A Doula já era sua amiga, acredita que a presença dela tenha te deixado mais segura?
Claro que presença da doula dá uma segurança. Ela foi a primeira a chegar, quando o trabalho de parto já estava intenso. Contávamos a duração das ondas, os intervalos entre as mesmas. A presença dela também acalmava Paschoal, meu marido. Ela fez massagens na lombar assim como as parteiras, depois que foram chegando. A doula era minha amiga já, mas nos aproximamos mais após tudo isso.

O que mais mudou na ‘Mariana’ depois da chegada da Joana?

Eita! Que pergunta! Acredito que a própria gestação já é a preparação lenta e gradual para o que está por vir. Assim como o crescimento do bebê, lento e gradual, vai naturalmente nos deixando aptos para a constante mudança que é o viver. Logo após o nascimento, meu corpo estava cheio de ocitocina! O êxtase estava em mim, e o leite também! Após parir em casa, aquele cheiro de tudo no ambiente, tudo é muito favorável para a chegada do novo ser. Logo, a missão era amamentar muito a pequena bebê, e aquela barrigona já estava do lado de fora, ali no colo, experimentando suas primeiras sucções nos peitões da mamãe Mariana. Quem diria! O colostro vai virando leite, a bebê vai virando expert no assunto. São tantas as mudanças! Somos uma só, eu e ela, ela e eu. Conforme ela vai mudando, o mesmo acontece comigo. É tudo junto, entende? A mudança não cessa nunca! Essa é a constante!

E o papai Paschoal, é totalmente a favor e participa das escolhas naturais na criação da Joana? (Diaper free)
Ahh, a temática do “sem –fraldas” já é um outro assunto! Apesar de muitas mães terem experienciado nascimentos naturais para seus filhos, são poucas as que se jogam numa criação tão livre quanto a que a de um bebê sem fraldas pode proporcionar. É fantástico, e muito divertido! A informação começa a se difundir e muitas famílias estão vendo a alegria que é um bebê livre de fraldas. Livrei de fraldas, de assaduras, de pomadas, lencinhos, trequinhos, cheirinhos. É como o bebê deve viver, livre. Paschoal já têm um filho de sua união anterior, que com cinco anos ainda precisa de auxílio para não molhar sua cama. Ele viveu a escravidão das fraldas e pode comparar as duas criações. Um bebê sem fraldas é sim mais ativo, esperto, feliz. É assim tradado com todo o respeito que merece, que anseia.

Se você tivesse uma amiga grávida, aconselharia a ela a fazer o parto em casa?
Conselhos, conselhos, conselhos. Complicado não? O que posso falar é sobre a minha experiência. Há coisas que nem precisam ser ditas e sim observadas. O parto em casa é para o bom observador, que enxerga além dos receios a tamanha felicidade gerada pelo ritual do parto natural, em particular o domiciliar.

Na sua opinião o resgate do parto no aconchego do lar deve ser melhor divulgado?
Já está sendo! Você Evelyn, me fazendo esta entrevista! Muitos profissionais humanizados também são parte importante da engrenagem da mudança, mas o principal são as mulheres, que devem cada vez mais se informar e tomarem para si este momento que é só delas, e de suas famílias. Parir é dar à LUZ! Veja só esta expressão! Nada de dores, incômodos e medos na pauta, e sim LUZ, AMOR, DEVOÇÃO. FAÇA VOCÊ TAMBÉM O SEU PARTO DOMICILIAR! Você pode! Aproveito também para deixar meu contato direto, e minhas novidades: www.mariejoana.wordpress.com . Apesar de ainda não ter redigido meu relato de parto, que logo estará no blog, fiz uma entrevista para a página UOL, sobre o nascimento de nossa filha Joana: http://celebridades.uol.com.br/noticias/redacao/2011/04/06/filha-de-ana-maria-braga-fala-sobre-os-beneficios-do-parto-domiciliar.htm . Não liguem para o título péssimo  “celebridades”, que nada tem a ver conosco. Disponibilizei fotos do nascimento, tiradas pela doula, para que as pessoas pudessem VER do que se trata um nascimento em casa. Divirtam-se!

  

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