domingo, 4 de dezembro de 2011

Revolução cultural sobre o nascimento e mais com Dr. Ric Jones

    Estava ansiosa por esta entrevista, para ler e publica-la, mas devido a falta de tempo não conseguirei editar, pois minha banca já será amanhã e estou correndo com a apresentação. Peço desculpa por postar na íntegra, mas acredito que isso também irá contribuir com sua leitura, pois aqui está a mais sincera e objetiva opinião do Dr. Ricardo Herbert Jones, profissional com extensa carreira na medicina e militante de importantes movimentos pró humanização do parto.

     Quando se ouve que o Brasil é atrasado em relação à humanização do parto (com­parado aos países europeus), acaba sendo culpa da tecnologia que para acelerar o processo, esqueceu-se que a mulher deve ser ouvida e respeitada du­rante o parto. Como usar esse avanço tecnológico a favor, mas sem inibir a atua­ção da mulher?

    O atraso que percebo no Brasil não está ligado à disponibilidade de tecnologia, mas à falta de um debate moderno sobre as questões relacionadas aos direitos humanos re­produtivos e sexuais. Não é possível perceber nenhuma distinção entre as facilidades tecnoló­gicas oferecidas à classe média brasileira para o acompanhamento de um parto daquelas oferecidas ao mesmo estrato social euro­peu. Entretanto, a possibilidade de uma mulher aí inserida ser submetida a uma cesa­riana é muito maior no Brasil do que na Europa. A razão para esta discrepância é emi­nentemente cultural, e não econômica. As questões econômicas estão restritas ao SUS e suas dificulda­des, mas os usuários do sistema estatal de saúde tem uma chance muito maior de conseguirem um parto vaginal. Infelizmente este parto será invariavelmente repleto de intervenções e envolto pela aura obscura da violência institucional. Recentes pesquisas demonstram que 27% das paci­entes do sistema público sofrem algum tipo de violência durante a assistência ao parto, seja verbal, física ou moral. Mesmo as do sistema privado também são víti­mas dessa violência, mas em número um pouco menor: 17%. As propostas da huma­nização do nascimento, por exemplo, beneficiam o bom uso de tecnologia, e reforçam o conceito de que esta só pode ser aplicada em circunstâncias especiais, e sempre para resguardar o bem estar do binô­mio mãebebê. Diante do questionamento fre­qüente sobre os limites da utilização de tecnologia, eu estabeleci uma proposta de as­sistência humanizada ao nascimento que se assenta sobre um tripé conceitual:

    1. O protagonismo restituído à mulher, sem o qual estaremos apenas "sofisti­cando a tu­tela" imposta milenarmente pelo patriarcado.
    2. Uma visão integrativa e interdisciplinar do parto, retirando deste o caráter de "pro­cesso bi­oló­gico", e alçando-o ao patamar de "evento humano", onde os aspectos emocionais, fisiológicos, sociais, culturais e espirituais são igual­mente valorizados, e suas específicas necessi­dades atendidas.
    3. Uma vinculação visceral com a Medicina Baseada em Evidências, deixando claro que o mo­vimento de "Humanização do Nascimento", que hoje em dia se espalha pelo mundo in­teiro, funciona sob o "Império da Razão", e não é mo­vido por crenças religio­sas, idéias místicas ou pressupostos fantasiosos.

      Sendo grande ativista na Medicina Baseada em Evidências, como avalia o con­flito MBE x novas tecnologias para o nascimento?

    Eu particularmente não vejo conflitos nessa área. Existem pesquisas e revisões siste­máticas que são publicadas todos os dias a respeito de novas abordagens sobre o nascimento. Conforme expressei anteriormente, a Medicina Baseada em Evidências é parte integrante de uma estratégia para a humanização do nascimento. Antes da intro­dução desta importante ferramenta as condutas com gestantes em centros obstétricos eram marcadamente ideológicas, normalmente refletindo os valores pessoais dos chefes de serviço. O modelo de atenção seguia uma hierarquia totêmica e, portanto, os mais graduados é que ditavam regras, que muitas vezes não refletiam o estado da arte da ciência obstétrica. Entretanto, apesar do longo tempo em que a MBE está ofere­cendo orientações aos profissionais da assistência ao parto, ainda existem muitas con­dutas que precisam ser revistas. Entre tantas podemos citar a monitorização eletrônica contínua e a episiotomia, que apesar de não oferecerem benefícios quando utilizadas de rotina, ainda são usadas nos hospitais brasileiros muito além da sua necessidade. O conflito entre a Medicina Baseada em Evidências e a Prática Médica só vai terminar quando a mitologia contemporânea de “transcendência tecnológica” for substituída por uma forma mais racional de atenção ao parto, maximizando a atenção aos aspectos emocionais, psicológicos, afetivos, sociais e espirituais da gestante e sua família, ao mesmo tempo em que usa o recurso tecnológico com extrema parcimônia.

     Como empoderar as mulheres para que elas acreditem em si, compreendam que não devem se entregar a uma única opinião médica e devem se afastar de pes­soas com ideais contrários?

     A melhor forma - e a mais difícil e lenta - é através do exemplo e da informação. Os grupos de mulheres grávidas e o ativismo institucional (ReHuNa, Parto do Princípio, etc.) são formas de organização “de baixo para cima” que poderão oferecer frutos em médio e longo prazo. A internet cumpre um papel fundamental de disseminação das novas ideias relacionadas com o nascimento. Nunca houve tantas mulheres informa­das sobre as opções que existem ao seu dispor no que se relaciona ao nascimento. Muito disso se deve aos grupos temáticos da rede internacional de computadores, onde as pessoas podem trocar informações entre si e com profissionais da saúde, ob­jetivando a ampliação da gama opções para encontrar a forma mais adequada e pes­soal de parir com segurança e conforto. Assim sendo, pelas características específicas do projeto de humanização0 do nascimento, os resultados só podem ser em longo prazo, pois se trata de uma “revolução” que tem a ver com a sedimentação de novos valores sociais relacionados com a própria posição da mulher na cultura. Tais altera­ções nos núcleos valorativos da sociedade não ocorrem por decreto, mas através de uma lenta adequação.

       A gestante pouco planeja o parto, (parte fundamental) e se apega aos itens materi­ais da gestação. Isso pode causar danos? Quais?

        O pior de todos os problemas é a alienação. Ao desconsiderar as múltiplas alternativas que, em teoria, existem para o seu parto e focalizando-se nas necessidades “munda­nas” relacionadas a ele (qual o hospital, que acomodações, quanto custa, etc.) e à chegada do bebê (bebê conforto, fraldas, quarto do bebê, etc.) ela acaba desviando a atenção para as decisões importantes que precisará tomar. Quando a paciente e seu companheiro não são atuantes e participativos na tomada de decisões, o profissional assume a dianteira e o controle do processo. A partir daí o parto não mais lhes per­tence, mas será do profissional responsável. Ele tomará as decisões, mas como as responsabilidades também lhe cabem, tais decisões vão acabar contemplando as ne­cessidades do profissional, e não os desejos e aspirações do casal. Empoderar casais significa garantir a eles as rédeas da gestação através do conhecimento e da responsabilização conjunta. Somente assim teremos uma verdadeira revolução cultural sobre o nasci­mento.

        Qual o problema ao induzir um parto em uma gestante com mais de 41 semanas? Há alguma alternativa natural à indução medicamentosa? Ou deve-se esperar o bebê querer nascer?

       Induzir um trabalho de parto é uma intervenção médica que induz riscos. A ocitocina é um hormônio potente, que propicia contrações muito fortes, e por vezes violentas. As contrações artificialmente determinadas acabam diminuindo o aporte de oxigênio para a placenta. Desta forma, menos oxigênio e nutrientes chegarão ao bebê. Muitas vezes isso se traduz por alterações nos batimentos cardíacos fetais, e o processo que poderia ser natural termina em uma cesariana. Evitar este tipo de interferência no processo deve ser um objetivo de todo o profissional que deseja um parto mais seguro para sua pacientes. O simples fato de chegar às 41 semanas não deve ser encarado como um “fim de linha” para o nas­cimento, mas um momento em que se deve monitorar de forma mais intensiva o bem estar do feto, utilizando os protocolos adequados para este fim. Aguardar ou intervir deve sempre ser discutido com o casal, oferecendo a eles a participação nas decisões.

        A escolha pelo parto domiciliar está ganhando muitos adeptos, alguns porque gos­tam da “poesia” que isso passa e outros para evitar os possíveis traumas causados em um hospital. O que deve ser levado em consideração para que esse sonho seja possível? 

     Partos domiciliares somente podem ocorrer em pacientes de baixo risco. Isto é: não se admitem pacientes portadoras de hipertensão, diabete, doenças do colágeno, malfor­mações ósseas maternas da pelve ou em que a gestação seja prematura, entre outras contra-indicações. Além disso, tais partos precisam ter planos alternativos muito bem elaborados e estudados. É preciso que os profissionais que o atendem tenham experi­ência e conhecimento das características de um parto no domicílio. Precisam também de equipamento adequado para a atenção de urgência de mães e bebês. É funda­mental a existência de um hospital de referência que esteja há pelo menos 30 minutos de distância de onde o parto está para ocorrer. E, por fim, é preciso que o casal esteja plenamente ciente e de acordo com esta opção, reconhecendo os riscos e benefícios de um nascimento extra-hospitalar, e auxiliando os profissionais que os acompanham,

        É comprovado cientificamente que a presença da Doula realmente ajuda no equilí­brio do TP e hoje existem vários cursos para essa formação. De que ma­neira, o Governo poderia ajudar a população mais carente, uma vez que o traba­lho da Doula é particular?

      As vantagens da presença da doula são conhecidas desde o início da década de 90, através dos trabalhos iniciais de Klaus & Kennell. Posteriormente, uma série de traba­lhos foram realizados para avalizar as vantagens da presença de doulas. Estes estu­dos ocorreram em locais tão diferentes como os Estados Unidos, Guatemala e África do Sul, demonstrando que o suporte que estas mulheres oferecem não diminui com relação às etnias, latitudes, poder econômico e recursos aplicados na medicina. Os go­vernos podem agir de várias formas: estimulando e patrocinando cursos de formação de doulas, organizando-as como categorias profissionais, orientando médicos e enfer­meiras sobre a importância do trabalho delas e estimulando economicamente a sua presença em hospitais do estado. Os congressos de doulas também poderiam receber subsídios governamentais para que mais mulheres interessadas em auxiliar no parto possam trocar informações com profissionais de outras localidades e contextos.

      Ricardo Herbert Jones é Ginecologista, Obstetra e Homeopata. Formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul é autor do livro "Memórias de um homem de vidro - Reminiscência de um Obstetra Humanista" lançado em 2004 e é indicado para quem busca um parto mais digno. A extensa e sólida carreira do "Dr. Ric" inclui palestras sobre Humanização do Parto já proferidas em todo o Brasil e também no exterior. Participou como "expert" do documentário "Orgasmic Birth", de Debra Pascali-Bonaro em 2008 e recentemente do Documentário "O Renascimento do Parto", de autoria de Érica de Paula e Eduardo Chauvet  que contou também com a participação de Marcio Garcia e será lançado em 2012.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A escolha consciente do parto em casa

    De acordo com a parteira Marília Largura, “escolher dar à luz em casa, constitui uma decisão totalmente responsabilizante”, pois ninguém mais será responsável pelo seu parto senão você. Por isso é extremamente importante ter noção do que irá acontecer e estar muito bem informada. Ter contato com pessoas que já vivenciaram essa experiência ajuda bastante, hoje nas redes sociais há diversos grupos em prol da humanização do parto e do parto domiciliar, onde os membros são maioria casais, médicos, parteiras, doulas e ativistas adeptos ao tema e colocam em discussão assuntos relacionados e todos podem contribuir com conhecimento e tirar dúvidas.
      O primeiro passo para que o parto seja um sucesso é fazer um bom pré-natal e certificar-se de que você e o bebê estão realmente saudáveis, esse acompanhamento deve ser feito preferencialmente por um profissional humanista, que já tenha muita experiência com o tipo de parto que você deseja para que no final você não tenha surpresas desagradáveis, e se necessário, procure outros médicos.
     Saiba que a decisão deve ser concordada pelo casal, não adianta você estar  animada com a ideia, se seu companheiro não está de acordo. Mas isso não significa que você deva desistir de seu sonho, ajude seu parceiro, tente esclarecer suas dúvidas, com as mesmas informações que te fizeram avaliar que o parto em casa é seguro. Uma boa alternativa é convidar uma Doula para que além de te acompanhar em todo o processo do parto, converse com seu marido, assim ele ficará mais tranquilo com a escolha.
      A escolha pelo parto domiciliar merece muito tempo de antecedência, pois vocês têm que se preparar para algumas mudanças de hábito e principalmente assimilar a ideia e ter certeza de que é a melhor opção. Os profissionais que irão lhe atender também devem ser contratados com antecedência, pois geralmente eles trabalham em equipes bem pequenas ou muitos sozinhos e por isso têm que se organizar.
     A notícia da escolha do casal pode ser divulgada à família, mas não é uma obrigatoriedade. Se seus familiares forem um tanto resistentes ao assunto vocês podem ir falando aos poucos, e se perceberem que ainda há quem seja contrário, não o convide para estar presente no parto, ele poderá atrapalhar.

A dor

   Marília Largura atenta também para esse vilão que intimida muitas mulheres e diz que ela existe sim, “é uma realidade que não pode ser negada”. Vivemos em uma sociedade que usa todos os artifícios possíveis para fugir da dor. Ela está presente no cotidiano de milhões de pessoas, que correspondem coletivamente pelo uso ilimitado de toneladas de analgésicos, uma solução estritamente química e eficaz somente a curto prazo.
  A mulher, ao dar à luz, traz sua bagagem, suas experiências que tiveram início quando criança nas primeiras quedas e machucados, nas doenças próprias da infância, nas frustrações e desejos não satisfeitos. Passou por momentos de dor física e psíquica. Quando adulta e grávida, ela deve se preparar de maneira realista para o imenso desafio que representa o trabalho de parto. 
    Embora possa parecer louvável o ponto de vista humano, não devemos amenizar o fato com palavras substitutas como “contração” ou “desconforto”. A verdade deve ser dita para evitar que ela se descontrole no momento da dor, o que iria prejudica-la ainda mais. A dor aparece sempre num contexto que influencia a maneira pela qual nos atinge.
    Entre os fatores que aumentam a nossa percepção da dor, estão o medo, o estresse mental, a tensão, a fadiga, o frio, a fome, a solidão, o desamparo social e afetivo, a ignorância do que está acontecendo, um meio estranho ao que estamos habituados. Entre os fatores que reduzem nossa percepção da dor, temos o relaxamento, a confiança, uma informação correta, o contato contínuo com pessoas familiares e amigas, o fato de estar ativa, descansada e bem alimentada num meio familiar confortável e o fato de permanecer no instante presente e de viver as contrações uma a uma.

Marilia Largura é Parteira e formada em Enfermagem pela Escola da Cruz Vermelha e Doutora pela UFRJ, participou ativamente de mais de 5 mil partos e hoje com 76 anos continua atendendo a partos domiciliares e é também a autora do livro “A assistência ao parto no Brasil” que aborda temas como o parto humanizado e domiciliar.

Contato: mlargura@ajato.com.br
www.partohumanizado.com.br

domingo, 27 de novembro de 2011

Programa Vida e Saúde fala sobre Parto Domiciliar

      O Programa Vida e Saúde que foi ao ar no dia 26/11/2011 teve como um dos assuntos abordados o parto domiciliar e contou com a participação especial da Joyce Koettker e da Iara Silveira que são integrantes da Equipe Hanami de Florianópolis.

  
      A pauta foi sugerida por mim, Evelyn, como parte final do meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e para isso o blog tinha que ser divulgado na mídia. Apesar de ter sido uma matéria curtinha, foi muito bom ter tido essa experiência não somente por ter cumprido um requisito do trabalho, mas, por levar esse assunto de uma maneira tão aberta e ter sido tão bem recebido. 


    Clique no link e assista a nossa participação que está no primeiro bloco do programa.   

   Confira as fotos do making of da reportagem que foi gravada no dia 11 deste mês no Parque de Coqueiros e além das Hanamigas, a Maíra Biral que teve parto domiciliar com o acompanhamento da equipe, também participou.

Joyce Koettker
Foto: Evelyn Silvero

Iara Silveira
Foto: Evelyn Silvero

Maíra Biral
Foto: Evelyn Silvero

Evelyn Silvero
Foto: Cinegrafista RBS TV


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A sensibilidade de uma parteira

Sabe aquela imagem idealizada da figura da parteira: velhinha, cabelos brancos, apalpando a mulher em trabalho de parto?

Não, a Tamara não é assim! E muito pelo contrário, é super jovem, cabelos curtos e olhos azuis. Ah! E tem um sotaque um pouco diferente, pois ela é Alemã e vive aqui em Florianópolis há pouco mais de quatro anos. Agora conheça um pouco sobre sua formação e entenda como é o trabalho de uma parteira.
Tamara Hiller é parteira graduada e trabalha independente há pelos menos seis anos. Nascida na Alemanha, onde é comum o trabalho das parteiras nos cuidados com a gestante. Lá essa formação é regulamentada pelo sistema de saúde, onde também os médicos formados não são tão necessários quanto às midwives.
No período em que cursava a faculdade, Tamara fazia estágio atendendo a partos domiciliares e em casas de parto. Acompanhava também o pré-natal e no pós-parto. Diferentemente do Brasil, na Alemanha os médicos quase não atuam na obstetrícia, ele são proibidos de atenderem gestantes sem o acompanhamento de uma parteira, mesmo se tratando de cesárea. Já as parteiras podem fazer todo o trabalho sem a supervisão de um médico.
Tamara Hiller
Foto: Evelyn Silvero
Enquanto trabalhava em seu país de origem Tamara realizou cerca de 300 partos, quase todos junto com mais uma profissional. O atendimento era feito desde o início da gestação, e para isso as parteiras se especializam em atividades que irão auxiliar no preparo do corpo da mulher. As mais procuradas eram a massagem perineal, ginástica pélvica, ioga para gestante e bebê, acupuntura, shantala e curso de preparação para casais. Essas atividades e as consultas eram realizadas nas casas das parteiras ou em casa de parto, mas bem diferentes das que tem no Brasil.
Há quase quatro anos, já no Brasil, nasceu a filha da Tamara, e como não poderia ser diferente, foi em casa e teve o acompanhamento da Equipe Hanami, em Florianópolis. “Foi muito lindo, e eu já sabia como ia ser”, declara. Foram 20 horas de trabalho de parto, e ressalta que as mulheres devem se preparar, pois o parto demora mesmo, é um trabalho árduo e pode levar a mulher aos limites.

E explica que é muito importante não chamar a parteira, ou obstetriz cedo demais, a mulher deve descansar, dormir, caminhar, meditar, estar relaxada, pois será ela quem irá fazer o parto. Segundo Tamara, o problema é que “falta muito preparo das mulheres, elas tem muito medo, deve–se excluir esses pensamentos e perguntas internas, deixar fluir, se entregar completamente ao trabalho, à partolândia, ela deve se concentrar no movimento. A atividade mental inibe, e isso prejudica”.


Um conselho 

A troca de experiências é uma rica fonte de segurança, a gestante deve se reunir com outras mulheres, ouvir histórias, obter mais informações, o marido tem que participar, encontrar com outros casais, para entender como funciona. Tamara assegura que o parto em casa é mais seguro do que no hospital. Michel Odent recomenda ter mais partos em casa com parteiras. “Olhe nos estudos científicos, pode ser perigoso da mesma maneira do que em um hospital, não acreditar no primeiro médico, deve consultar o histórico de partos do médico, confiar em seu corpo, a mulher precisa sentir isso”. 
O quanto a mulher estiver relaxada interfere em como o bebe vai descer, grande ou pequeno não tem diferença, uma vez que o corpo da mulher de adapta gradativamente para o nascimento. No caso de o bebe estiver sentado, deve-se conversar com a parteira para ver qual procedimento tomar, há técnicas muito eficientes para isso, inclusive acupuntura. Portanto, há uma solução antes de optar pela cesárea.


Os benefícios da presença de uma parteira, segundo ela são inúmeros, e comprova que em todos os atendimentos que realizou, apenas 1% foi necessário optar pela cesariana.
Na opinião da parteira, as crianças devem vivenciar esses acontecimentos e serem preparadas para o parto natural. E dá o exemplo de sua filha que desde pequena lê livros infantis onde as historinhas, são de mulheres parindo em casa, com parteira e toda a família acompanhando. Tamara acredita que com essa educação, sua filha estará com a mente e o corpo preparados, sem medos e preconceitos, livre da indústria da cesárea eletiva. E diz que deve se falar sobre isso com naturalidade para as crianças.
Na atualidade, diversos grupos a favor da humanização do parto estão crescendo, ainda são pequenos, mas muito fortes. Ela cita o livro Parto com Amor, de Luciana Benatti e Marcelo Min onde traz lindas histórias de mulheres e que muito bem formulado já está ajudando e muito na divulgação da importância do respeito ao nascimento. “Se por um lado o avanço tecnológico como o parto industrial esta crescendo, esses movimentos a favor de empoderar as mulheres também está em ritmo acelerado” completa.
Tamara alerta para a importância da escolha pelo parto domiciliar; “o parto é uma das coisas mais seguras. A natureza não está brincando. É impossível uma mulher relaxar em um hospital, com toques, entra e sai, voz alta”.  E diz que até em casa deve se preservar o silêncio, nem a parteira pode atrapalhar. Quem acompanha tem que estar consciente, não falar alto, sem luz forte, ajudar fazendo massagens e apenas observar.



O trabalho de parto é demorado

O acompanhamento é feito com a gestante durante toda a gravidez, a parteira acaba conhecendo muito bem o funcionamento do corpo da gestante, e se na hora do parto acontecer algo inesperado ela saberá como agir.  A parturiente só é encaminhada para o hospital se o parto demorar além do esperado ou se esta exigir algum medicamento para controlar a dor.        
Há partos que demoram mais de uma semana para acontecer, isso ocorre principalmente quando é a primeira gravidez. Nesses casos, a parteira verifica se está tudo bem com o bebê e vai embora, mas fica de prontidão para qualquer chamado da mãe. Segundo Tamara, os partos em geral são um processo demorado. E deve-se esperar com calma, de preferência em casa, pois assim que a mulher der entrada em um hospital, terá que aceitar a rotina daquele lugar, sem privacidade ou autonomia sobre seu corpo. “A mulher tem que dilatar um centímetro por hora, e ter que caminhar, se movimentar para acelerar o processo, isso não está certo”, esclarece e diz que talvez se a mulher for para casa dormir, isso irá acontecer naturalmente, “a mulher sabe, ela pode escutar o corpo dela”, completa.



Empreendedorismo em família

Quando perguntei se ela vai voltar a trabalhar agora aqui no Brasil, respondeu que por enquanto não, pois é um trabalho que exige muita dedicação, tem que estar totalmente envolvida com a gestante e sempre disponível para as emergências. Tamara é casada e tem uma filha de quatro anos, no momento pensa em cuidar da família, aproveitar os momentos com a pequena.
Ela adora falar sobre esse assunto, e diz que ainda se sente como parteira, pois o objetivo de conversar e encorajar as mulheres faz parte do trabalho de uma parteira, e é disso que ela mais gosta.
Foto: site slingando.com

Em Florianópolis, Tamara foi uma das primeiras pessoas a usar o sling para carregar sua filha, o que chamou muita atenção de quem via, a paravam na rua para ver o que era, e perguntavam como era possível carregar uma criança dentro de um pano, chegou a fazer um vídeo explicativo sobre o uso do sling. Hoje ela e o marido confeccionam o produto e vendem pela internet. No site slingando.comTamara reuniu, além de informações sobre tipos de carregadores de bebês e seus benefícios, ela disponibiliza artigos importantes sobre amamentação, deaper  free (técnica do bebê sem faldas) ,entrevistas  com profissionais sobre assuntos relacionados à maternidade e fóruns sobre maternidade consciente.

Quanto dói um parto natural?

Artigo
Por Cris Doula

    Sem dúvida um dos maiores medos das mulheres grávidas e também um dos maiores motivos para ter uma cesárea agendada é o grande mito da dor no parto, a dor da morte, e muitas outras besteiras que já ouvi nesses quase dois anos como Doula. Mas será que essa dor é só mito? Será que essa dor é assim tão ruim? Será que para parir um filho é preciso sofrer? Não, para todas as perguntas acima!

      A dor do parto não é um mito, ela existe para praticamente todas as mulheres em trabalho de parto, algumas mulheres toleram ela com uma facilidade maior, outras não. Mas, nós sabemos que o medo está diretamente relacionado com o tamanho do dor, inclusive o tamanho do seu medo será o tamanho da sua dor. E também não é uma coisa constante, a contração vem, dói, e vai embora.

      Quanto mais preparada a gestante estiver, se ela entender a fisiologia do corpo humano no processo, as fases do trabalho de parto, e o que esperar, ela vai passar pelo processo com muita facilidade. Trabalhar esses medos é fundamental, por isso explique para a sua Doula tudo o que você teme, e no trabalho de parto revele os seus medos, só assim ela vai poder ajudar a vencê-los.
      Sempre que eu ouço mulheres dizendo que sentiram muita dor eu faço algumas perguntas, e a GRANDE maioria estava sozinha durante o trabalho de parto, ou com um acompanhante nervoso do lado, ficavam deitadas durante o processo, sem levantar para praticamente nada. Além disso, passaram o trabalho de parto em um ambiente totalmente estressante, onde aumenta a liberação de adrenalina o que faz aumentar a dor, e diminui a ocitocina que faz com que o colo do útero dilate.
      Aliás, esperar pela dor já é um motivo para senti-la, o psicológico é muito poderoso, e todos os filmes e novelas mostram cenas horríveis de mulheres gritando e chorando, mostram o suficiente para assustar as gestantes que já estão sensíveis. Existem várias maneiras naturais de lidar com esse desconforto, bolsa térmica quente, massagens, posições, banho de chuveiro, banho de banheira, entre outros.
     Mas, lembre-se que se com tudo isso, com todas as dicas, você ainda sentir que a dor é mais do que você pode lidar, sempre existe a analgesia peridural.
     Você nunca vai saber como é, como será o tamanho da sua dor, sem tentar. Muitas mulheres dilatam rapidamente e confirmam que a dor é totalmente suportável, outras tem uma tolerância mais baixa, mas TODAS esquecem o que sentiram depois, e TODAS confirmam que vale muito a pena!  Aliás, a cesárea não é indolor, mesmo com todas as medicações e a morfina que a parturiente recebe, quando passa a dor vem. Eu não passei pelo trabalho de parto, mas passei por uma cesárea e lidei com as dores, justamente quando precisava cuidar da minha filha.


Cristina de Melo é Técnica de Enfermagem e Doula
e atende na Grande Florianópolis. 
Seu trabalho principal é no atendimento com a gestante, parto e pós-parto, assim como aleitamento e cuidados com o bebê.
Para contato acesse http://crisdoula.blogspot.com

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Parto sem episiotomia e lacerações? Sim isso é possível!

      E a grande aliada para evitar esses acontecimentos desagradáveis é a massagem perineal. A fisioterapeuta gestacional Mariana da Rosa fala um pouco sobre os benefícios dessa massagem e ensina como você pode fazer em casa. Confira.

Quando as gestantes pensam em parto normal, a primeira coisa que lhes vem a cabeça é: E os músculos da vagina? E o corte? E como vai ficar depois?
Aí entra em cena, uma técnica da fisioterapia chamada massagem perineal, onde são feitos alongamentos manuais no tecido da vagina para aumentar a flexibilidade e preparação para a saída do bebê. Junto com a massagem é realizado o fortalecimento do períneo, e essas duas técnicas se feitas em conjunto, diminuem significativamente a necessidade de realizar o corte na vagina chamado de episiotomia e ainda previne uma futura incontinência urinária por fraqueza muscular.

IMPORTANTE: Essa técnica é utilizada a partir de 34 semanas.


INSTRUÇÕES:

- Encontre um lugar onde se possa sentar e estar sozinha, ou com seu parceiro, ininterruptamente.

- Tente ver seu períneo com ajuda de um espelho, note como ele é. Nem sempre será necessário um espelho para essa tarefa!

- Pode usar compressas com toalhas mornas no períneo por 10 minutos, ou tomar um banho morno (de banheira, assento, ou chuveiro, em último caso), caso precise relaxar.

- Lave as suas mãos e peça ao seu companheiro para fazê-lo também, caso ele a ajude nas massagens.

- Lubrifique seus dedos polegares e o períneo. Você pode usar muitos tipos de lubrificantes: Gel Lubrificante Íntimo (encontrado nos hipermercados e farmácias), KY Gel®, óleo de vitamina E, óleo vegetal puro (óleo de semente de uva é uma boa indicação!), etc.

- Coloque seus dedos polegares um pouco dentro de sua vagina, empurre-os para baixo e pressione para os lados. Deve sentir um leve estiramento, formigamento, ou uma leve queimação, mas nada que seja dolorido. Mantenha esse movimento por 2 minutos ou até que região fique levemente adormecida.

Observe a figura:

- Se sofreu uma episiotomia ou lacerações prévias, preste especial atenção ao tecido de cicatrização que, geralmente, não é tão elástico e é onde a massagem deve ser feita mais intensamente, com cuidado.

- Massageie em volta e por dentro da região mais externa da vagina e seus tecidos, onde ela se abre, e mantenha sempre a lubrificação.

- Use seus polegares para puxar um pouco os tecidos, forçando-os a abrirem-se, imagine como seria se a cabeça do seu bebé estivesse fazendo esse movimento na hora do parto.

- Se seu parceiro estiver fazendo a massagem, pode ser muito útil que ele use os polegares. A sensação pode ser mais bem percebida por você, mas não deixe de guiá-lo com suas sensações para que ele saiba qual a pressão que deve utilizar. Nesta massagem, quando ela está sendo feita pelas primeiras vezes, é comum que seja possível usar somente um dedo, até que a musculatura seja trabalhada e possa ser estendida.


ATENÇÃO:

1. Evite mexer no ou abrir o orifício da uretra (logo acima da vagina) para evitar infecções urinárias.
2. Não faça massagens no períneo se você tiver lesões ativas de herpes (isso pode causar o aumento da área das lesões).
3. Pode começar essas massagens em torno da 34a semana de gravidez. Se já passou da 34a semana e ainda não começou, não desista! A massagem pode trazer-lhe benefícios ainda assim. Pode fazê-la pelo menos uma vez por dia.
4. Lembre-se que a massagem sozinha não vai proteger seu períneo, mas ela é parte de um grande esquema. Escolher uma posição vertical para parir (de cócoras, de joelhos, sentada etc.) favorece a distribuição de pressão no períneo. Se escolher parir deitada de lado, isso também reduz muito a pressão no períneo. Deitada de costas, totalmente na horizontal, é a posição para parir em que há mais chances de se provocar lacerações e necessidade de episiotomia.

Fonte: Humpar



Mariana da Rosa é formada pela Faculdade Assis Gurgacz e mora em Toledo no Paraná.
Seu principal trabalho é com a saúde da gestante, pré, peri e pós-parto. Além de atender particular, mantém parceria com a Secretaria de Saúde do Município de Toledo acompanhando gestantes e preparando para o parto.
A clínica fica na Rua Santos Dumont anexo ao Hospital Bom Jesus
Telefone para contato 45 9945 8148