quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A sensibilidade de uma parteira

Sabe aquela imagem idealizada da figura da parteira: velhinha, cabelos brancos, apalpando a mulher em trabalho de parto?

Não, a Tamara não é assim! E muito pelo contrário, é super jovem, cabelos curtos e olhos azuis. Ah! E tem um sotaque um pouco diferente, pois ela é Alemã e vive aqui em Florianópolis há pouco mais de quatro anos. Agora conheça um pouco sobre sua formação e entenda como é o trabalho de uma parteira.
Tamara Hiller é parteira graduada e trabalha independente há pelos menos seis anos. Nascida na Alemanha, onde é comum o trabalho das parteiras nos cuidados com a gestante. Lá essa formação é regulamentada pelo sistema de saúde, onde também os médicos formados não são tão necessários quanto às midwives.
No período em que cursava a faculdade, Tamara fazia estágio atendendo a partos domiciliares e em casas de parto. Acompanhava também o pré-natal e no pós-parto. Diferentemente do Brasil, na Alemanha os médicos quase não atuam na obstetrícia, ele são proibidos de atenderem gestantes sem o acompanhamento de uma parteira, mesmo se tratando de cesárea. Já as parteiras podem fazer todo o trabalho sem a supervisão de um médico.
Tamara Hiller
Foto: Evelyn Silvero
Enquanto trabalhava em seu país de origem Tamara realizou cerca de 300 partos, quase todos junto com mais uma profissional. O atendimento era feito desde o início da gestação, e para isso as parteiras se especializam em atividades que irão auxiliar no preparo do corpo da mulher. As mais procuradas eram a massagem perineal, ginástica pélvica, ioga para gestante e bebê, acupuntura, shantala e curso de preparação para casais. Essas atividades e as consultas eram realizadas nas casas das parteiras ou em casa de parto, mas bem diferentes das que tem no Brasil.
Há quase quatro anos, já no Brasil, nasceu a filha da Tamara, e como não poderia ser diferente, foi em casa e teve o acompanhamento da Equipe Hanami, em Florianópolis. “Foi muito lindo, e eu já sabia como ia ser”, declara. Foram 20 horas de trabalho de parto, e ressalta que as mulheres devem se preparar, pois o parto demora mesmo, é um trabalho árduo e pode levar a mulher aos limites.

E explica que é muito importante não chamar a parteira, ou obstetriz cedo demais, a mulher deve descansar, dormir, caminhar, meditar, estar relaxada, pois será ela quem irá fazer o parto. Segundo Tamara, o problema é que “falta muito preparo das mulheres, elas tem muito medo, deve–se excluir esses pensamentos e perguntas internas, deixar fluir, se entregar completamente ao trabalho, à partolândia, ela deve se concentrar no movimento. A atividade mental inibe, e isso prejudica”.


Um conselho 

A troca de experiências é uma rica fonte de segurança, a gestante deve se reunir com outras mulheres, ouvir histórias, obter mais informações, o marido tem que participar, encontrar com outros casais, para entender como funciona. Tamara assegura que o parto em casa é mais seguro do que no hospital. Michel Odent recomenda ter mais partos em casa com parteiras. “Olhe nos estudos científicos, pode ser perigoso da mesma maneira do que em um hospital, não acreditar no primeiro médico, deve consultar o histórico de partos do médico, confiar em seu corpo, a mulher precisa sentir isso”. 
O quanto a mulher estiver relaxada interfere em como o bebe vai descer, grande ou pequeno não tem diferença, uma vez que o corpo da mulher de adapta gradativamente para o nascimento. No caso de o bebe estiver sentado, deve-se conversar com a parteira para ver qual procedimento tomar, há técnicas muito eficientes para isso, inclusive acupuntura. Portanto, há uma solução antes de optar pela cesárea.


Os benefícios da presença de uma parteira, segundo ela são inúmeros, e comprova que em todos os atendimentos que realizou, apenas 1% foi necessário optar pela cesariana.
Na opinião da parteira, as crianças devem vivenciar esses acontecimentos e serem preparadas para o parto natural. E dá o exemplo de sua filha que desde pequena lê livros infantis onde as historinhas, são de mulheres parindo em casa, com parteira e toda a família acompanhando. Tamara acredita que com essa educação, sua filha estará com a mente e o corpo preparados, sem medos e preconceitos, livre da indústria da cesárea eletiva. E diz que deve se falar sobre isso com naturalidade para as crianças.
Na atualidade, diversos grupos a favor da humanização do parto estão crescendo, ainda são pequenos, mas muito fortes. Ela cita o livro Parto com Amor, de Luciana Benatti e Marcelo Min onde traz lindas histórias de mulheres e que muito bem formulado já está ajudando e muito na divulgação da importância do respeito ao nascimento. “Se por um lado o avanço tecnológico como o parto industrial esta crescendo, esses movimentos a favor de empoderar as mulheres também está em ritmo acelerado” completa.
Tamara alerta para a importância da escolha pelo parto domiciliar; “o parto é uma das coisas mais seguras. A natureza não está brincando. É impossível uma mulher relaxar em um hospital, com toques, entra e sai, voz alta”.  E diz que até em casa deve se preservar o silêncio, nem a parteira pode atrapalhar. Quem acompanha tem que estar consciente, não falar alto, sem luz forte, ajudar fazendo massagens e apenas observar.



O trabalho de parto é demorado

O acompanhamento é feito com a gestante durante toda a gravidez, a parteira acaba conhecendo muito bem o funcionamento do corpo da gestante, e se na hora do parto acontecer algo inesperado ela saberá como agir.  A parturiente só é encaminhada para o hospital se o parto demorar além do esperado ou se esta exigir algum medicamento para controlar a dor.        
Há partos que demoram mais de uma semana para acontecer, isso ocorre principalmente quando é a primeira gravidez. Nesses casos, a parteira verifica se está tudo bem com o bebê e vai embora, mas fica de prontidão para qualquer chamado da mãe. Segundo Tamara, os partos em geral são um processo demorado. E deve-se esperar com calma, de preferência em casa, pois assim que a mulher der entrada em um hospital, terá que aceitar a rotina daquele lugar, sem privacidade ou autonomia sobre seu corpo. “A mulher tem que dilatar um centímetro por hora, e ter que caminhar, se movimentar para acelerar o processo, isso não está certo”, esclarece e diz que talvez se a mulher for para casa dormir, isso irá acontecer naturalmente, “a mulher sabe, ela pode escutar o corpo dela”, completa.



Empreendedorismo em família

Quando perguntei se ela vai voltar a trabalhar agora aqui no Brasil, respondeu que por enquanto não, pois é um trabalho que exige muita dedicação, tem que estar totalmente envolvida com a gestante e sempre disponível para as emergências. Tamara é casada e tem uma filha de quatro anos, no momento pensa em cuidar da família, aproveitar os momentos com a pequena.
Ela adora falar sobre esse assunto, e diz que ainda se sente como parteira, pois o objetivo de conversar e encorajar as mulheres faz parte do trabalho de uma parteira, e é disso que ela mais gosta.
Foto: site slingando.com

Em Florianópolis, Tamara foi uma das primeiras pessoas a usar o sling para carregar sua filha, o que chamou muita atenção de quem via, a paravam na rua para ver o que era, e perguntavam como era possível carregar uma criança dentro de um pano, chegou a fazer um vídeo explicativo sobre o uso do sling. Hoje ela e o marido confeccionam o produto e vendem pela internet. No site slingando.comTamara reuniu, além de informações sobre tipos de carregadores de bebês e seus benefícios, ela disponibiliza artigos importantes sobre amamentação, deaper  free (técnica do bebê sem faldas) ,entrevistas  com profissionais sobre assuntos relacionados à maternidade e fóruns sobre maternidade consciente.

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