quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A escolha consciente do parto em casa

    De acordo com a parteira Marília Largura, “escolher dar à luz em casa, constitui uma decisão totalmente responsabilizante”, pois ninguém mais será responsável pelo seu parto senão você. Por isso é extremamente importante ter noção do que irá acontecer e estar muito bem informada. Ter contato com pessoas que já vivenciaram essa experiência ajuda bastante, hoje nas redes sociais há diversos grupos em prol da humanização do parto e do parto domiciliar, onde os membros são maioria casais, médicos, parteiras, doulas e ativistas adeptos ao tema e colocam em discussão assuntos relacionados e todos podem contribuir com conhecimento e tirar dúvidas.
      O primeiro passo para que o parto seja um sucesso é fazer um bom pré-natal e certificar-se de que você e o bebê estão realmente saudáveis, esse acompanhamento deve ser feito preferencialmente por um profissional humanista, que já tenha muita experiência com o tipo de parto que você deseja para que no final você não tenha surpresas desagradáveis, e se necessário, procure outros médicos.
     Saiba que a decisão deve ser concordada pelo casal, não adianta você estar  animada com a ideia, se seu companheiro não está de acordo. Mas isso não significa que você deva desistir de seu sonho, ajude seu parceiro, tente esclarecer suas dúvidas, com as mesmas informações que te fizeram avaliar que o parto em casa é seguro. Uma boa alternativa é convidar uma Doula para que além de te acompanhar em todo o processo do parto, converse com seu marido, assim ele ficará mais tranquilo com a escolha.
      A escolha pelo parto domiciliar merece muito tempo de antecedência, pois vocês têm que se preparar para algumas mudanças de hábito e principalmente assimilar a ideia e ter certeza de que é a melhor opção. Os profissionais que irão lhe atender também devem ser contratados com antecedência, pois geralmente eles trabalham em equipes bem pequenas ou muitos sozinhos e por isso têm que se organizar.
     A notícia da escolha do casal pode ser divulgada à família, mas não é uma obrigatoriedade. Se seus familiares forem um tanto resistentes ao assunto vocês podem ir falando aos poucos, e se perceberem que ainda há quem seja contrário, não o convide para estar presente no parto, ele poderá atrapalhar.

A dor

   Marília Largura atenta também para esse vilão que intimida muitas mulheres e diz que ela existe sim, “é uma realidade que não pode ser negada”. Vivemos em uma sociedade que usa todos os artifícios possíveis para fugir da dor. Ela está presente no cotidiano de milhões de pessoas, que correspondem coletivamente pelo uso ilimitado de toneladas de analgésicos, uma solução estritamente química e eficaz somente a curto prazo.
  A mulher, ao dar à luz, traz sua bagagem, suas experiências que tiveram início quando criança nas primeiras quedas e machucados, nas doenças próprias da infância, nas frustrações e desejos não satisfeitos. Passou por momentos de dor física e psíquica. Quando adulta e grávida, ela deve se preparar de maneira realista para o imenso desafio que representa o trabalho de parto. 
    Embora possa parecer louvável o ponto de vista humano, não devemos amenizar o fato com palavras substitutas como “contração” ou “desconforto”. A verdade deve ser dita para evitar que ela se descontrole no momento da dor, o que iria prejudica-la ainda mais. A dor aparece sempre num contexto que influencia a maneira pela qual nos atinge.
    Entre os fatores que aumentam a nossa percepção da dor, estão o medo, o estresse mental, a tensão, a fadiga, o frio, a fome, a solidão, o desamparo social e afetivo, a ignorância do que está acontecendo, um meio estranho ao que estamos habituados. Entre os fatores que reduzem nossa percepção da dor, temos o relaxamento, a confiança, uma informação correta, o contato contínuo com pessoas familiares e amigas, o fato de estar ativa, descansada e bem alimentada num meio familiar confortável e o fato de permanecer no instante presente e de viver as contrações uma a uma.

Marilia Largura é Parteira e formada em Enfermagem pela Escola da Cruz Vermelha e Doutora pela UFRJ, participou ativamente de mais de 5 mil partos e hoje com 76 anos continua atendendo a partos domiciliares e é também a autora do livro “A assistência ao parto no Brasil” que aborda temas como o parto humanizado e domiciliar.

Contato: mlargura@ajato.com.br
www.partohumanizado.com.br

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